TEXTOS ESCOLHIDOS DE ROGEL SAMUEL
quarta-feira, 18 de janeiro de 2023
na praia
na praia da ponta negra me prosternei
na praia do tempo,
na praia negra do tempo
sobre o muro de vermelha areia
estava escuro, sim,
e ninguém a via
o vento assustado uivava
e recolhia as estrelas penduradas
que se entreolhavam aflitas
e uiaras das águas venenosas
vestidas de branco ou nuas
em bando
sim eu via o rumo fundo do rio longo
na direção do fim do outro mundo amado,
do outro lado
eu estava com ela
e não, ninguém naquela hora,
ninguém naquela noite naquela
ninguém
nas linhas retas
das pedras antigas
nas areias do rio
no veio velho do vento
onde estaria ela agora?, a amada
na praia da ponta negra
ouvi e a amei
domingo, 29 de maio de 2022
depois de alguns novos passos
depois de alguns novos passos
cheguei aquela estrada amada
simples, reta, clara, nada
impedia ao reino me levava
estrada clara
e os sóis e as madrugadas
pelos vales verdes e azuis
de repente me abriam
doce esplendor desse mundo
posso passar sem mais nada
vejo belas paisagens
entrada clara
depois de alguns passos
cheguei à estrada amada
estrada ao nada
ROGEL SAMUEL
sábado, 14 de maio de 2022
Há muito tempo vejo nos ares
Há muito tempo vejo nos ares
um surto sons perfumes luminosidades
perto de todos e das coisas.
Há muito tempo surto. Me iludo.
Há muito tempo invoco os desconhecidos deuses.
Estarei só? Os deuses me voam no espaço.
Há muito tempo não estou só.
Refiro-me a esses deuses, que imagino. Nesta sala.
quinta-feira, 5 de maio de 2022
OS FANTASMAS DA FALTA
é à noite que os fantasmas da falta
se instalam nos espaços vagos
e sobre seus traços cegos
nos alertam
cobre a noite com seu manto
os pontos-luz e de visão
e no arco da cidade adivinho
amores outros, que não faltam
ROGEL SAMUEL
terça-feira, 12 de outubro de 2021
despertar paredes brancas, despertar
despertar paredes brancas, despertar
despertar paredes brancas, despertar
brancas folhas de papel dormentes
desviar o curso de um regato na encosta
da floresta que canta a sua canção de vento
entornar um pouco desse copo automático
funcionar minhas molas de rascunho pressionadas
retomar o fio da leitura interrompida
iludir o tempo de marcar esta postagem
Rogel Samuel
segunda-feira, 28 de dezembro de 2020
A VIDA SOB O VULCÃO
A VIDA SOB O VULCÃO
inclemente triste face
as imagens do vulcão
minha irmã indonésia
sofro com esse olhar de soslaio
Não é o Monte Sinabung
que abre a fúria dos deuses da terra
mas o teu recolhimento sereno
sob o lenço virginal
e a tua toca de freira
o pequenino nariz e a boca
e o olhar perdido no mundo
a triste face pequena
rogel samuel
sexta-feira, 25 de outubro de 2019
MANAUS
Sete dias serão, Manaus, ó sete amadas
Rogel Samuel
Sete dias serão, Manaus, ó sete amadas,
Por que se integre à terra este cantor.
Ó monstruosas noites desamparadas
De mim se aparte a porta dessa dor.
O espelho dágua ostenta a aranha alada
Que me arrasta o interno aeroplano,
Tresloucada vespa, cristalizada
Inoculando o inferno do engano.
Mas chega de canção, Amor, que neste canto
As finas rimas dessa ladainha
Escondem teus morenos ombros de arpejos.
Ó franca zona! Do Teatro o manto!
Por sete dias tua canção é minha
Na invenção literária dos teus beijos.
Rogel Samuel
Sete dias serão, Manaus, ó sete amadas,
Por que se integre à terra este cantor.
Ó monstruosas noites desamparadas
De mim se aparte a porta dessa dor.
O espelho dágua ostenta a aranha alada
Que me arrasta o interno aeroplano,
Tresloucada vespa, cristalizada
Inoculando o inferno do engano.
Mas chega de canção, Amor, que neste canto
As finas rimas dessa ladainha
Escondem teus morenos ombros de arpejos.
Ó franca zona! Do Teatro o manto!
Por sete dias tua canção é minha
Na invenção literária dos teus beijos.
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